domingo, 2 de janeiro de 2011

Herman Müller 01/01/2011

Eu pensei que era impossível.

Eu pensei que encontraria dentro de mim, que não viria revestido de osso e carne.

Pensei também que era devaneio dos desocupados.

Acreditei na minha independência, que eu não precisava.

Que se precisasse, procuraria num livro e se não achasse, escreveria um poema.

Eu pensei tanto tudo.

E então, eu me dei de frente com ele.

Na praça central, ele me abraçava a cintura e lia monumentos históricos em bom som enquanto arrumava os meus cabelos.

Ele sorria para mim sem ter motivos e me abraçava. Contou-me de seus livros, de seus filmes e quis saber dos meus, eu me deitei em seus braços e ele tirou de minhas mãos sem que eu percebesse, a lata já vazia de cerveja.

Em outro momento, havia dito que me amava e logo depois disse que sentira a minha falta por 19 anos. Os seus 19 anos sem mim.

Quando planejávamos o futuro, eu me dei conta da realidade, me virei e seriamente disse:
- Você vai me salvar desse fascismo?

Eu precisava de uma resposta. Eu estava em sua frente, olhando em seus olhos, segurando suas mãos e perdida no espaço tempo.

Ele me respondeu sem hesitar e com a calma dos anjos:

- Eu já estou salvando.

E eu soube que era verdade, repousei em sua voz.

Andávamos nos salvando das poças d’água por entre o chão, andávamos admirando as luzes de Natal e eu olhava para cima comovida com o reflexo das árvores, pensando estar me afogando num lago. E quando cambaleava, ele me segurava.

- Li um livro uma vez, que me fez cismar contra o céu. A imensidão do céu.

Ele me disse, segurando a minha mão enquanto eu dava passos bêbados.

Eu não queria ir embora daquela praça limitada por círculos de pedra e carros que bailavam por entre as ruas que as cercava.

Quando tive de deixa-lo, eu morri.

O amor da minha vida existia. E possuía olhos profundos.

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