Eu pensei que era impossível.
Eu pensei que encontraria dentro de mim, que não viria revestido de osso e carne.
Pensei também que era devaneio dos desocupados.
Acreditei na minha independência, que eu não precisava.
Que se precisasse, procuraria num livro e se não achasse, escreveria um poema.
Eu pensei tanto tudo.
E então, eu me dei de frente com ele.
Na praça central, ele me abraçava a cintura e lia monumentos históricos em bom som enquanto arrumava os meus cabelos.
Ele sorria para mim sem ter motivos e me abraçava. Contou-me de seus livros, de seus filmes e quis saber dos meus, eu me deitei em seus braços e ele tirou de minhas mãos sem que eu percebesse, a lata já vazia de cerveja.
Em outro momento, havia dito que me amava e logo depois disse que sentira a minha falta por 19 anos. Os seus 19 anos sem mim.
Quando planejávamos o futuro, eu me dei conta da realidade, me virei e seriamente disse:
- Você vai me salvar desse fascismo?
Eu precisava de uma resposta. Eu estava em sua frente, olhando em seus olhos, segurando suas mãos e perdida no espaço tempo.
Ele me respondeu sem hesitar e com a calma dos anjos:
- Eu já estou salvando.
E eu soube que era verdade, repousei em sua voz.
Andávamos nos salvando das poças d’água por entre o chão, andávamos admirando as luzes de Natal e eu olhava para cima comovida com o reflexo das árvores, pensando estar me afogando num lago. E quando cambaleava, ele me segurava.
- Li um livro uma vez, que me fez cismar contra o céu. A imensidão do céu.
Ele me disse, segurando a minha mão enquanto eu dava passos bêbados.
Eu não queria ir embora daquela praça limitada por círculos de pedra e carros que bailavam por entre as ruas que as cercava.
Quando tive de deixa-lo, eu morri.
O amor da minha vida existia. E possuía olhos profundos.
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