domingo, 10 de junho de 2012

A realidade é dura, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife.


Eu escolhi o certo, pensei no errado, mas tomei coragem e escolhi o certo. Vivi umas duas semanas assim, certa. Quando eu notei que aquilo era qualquer coisa menos o certo. Se fosse o certo, eu estaria com aquele sentimento de satisfação até o pescoço. Mas não. Ah, eu ouvi tantos conselhos que escolhi o certo de outra pessoa. Capaz. Na verdade, eu poderia ter feito qualquer escolha, eu não acredito no certo mesmo...ele e o errado vivem de intriga quando são duas orelhas de uma mesma cara. Mas que tipo de escolha uma pessoa como eu pode fazer? Não tenho nem princípios, muito menos valores. 
No fim, como era de se esperar, eu queria jogar tudo pro alto mesmo e me atirar numa piscina em pleno inverno. Acordar, entende? Ter que lidar com a bagunça é a pior parte. 
O que eu faço agora?
Sentada aqui, eu, a Camila de antes.
É isso, 6 meses e nada. O que eu sou eu nunca soube, acho que os outros é que sabem quem você é, porque nós mesmos estamos muito ocupados sempre, sabendo quem são os outros. Mas a minha maior esperança era por ventura descobrir o que eu quero ser...e pfff. Larguei a faculdade, meu alemão está tão travado que ..Wim Wenders, me perdoe. Eu lia tantos livros, eu escrevia tanto! Agora só o que eu sei da Camila é que ela está aqui, sentada, perdida. 14:31, domingo, junho.
Espere, é isso, 6 meses e tudo! Eu conheci ele. 
Eu passei a vida inteira inventando alguém, coisa de menina. Mas nunca me importei, nem se quer acreditava. Ia pra escola e voltava, um filme aqui e outro ali, a minha vida toda era inventada. Não tinha muito de realidade, eu não conhecia o pé no chão até então, era pequena e vovó fazia chás. Aí a realidade... e ele é bem melhor do que aquele que eu inventei. O cheiro dele e a voz dele, é tudo tão complementar. É como se tudo o que estava faltando esse tempo todo fosse ele, até a pipoca tem mais sabor e os filmes são mais engraçados. Bom, por ele eu viveria esses 6 meses vazios over and over again. É um paradoxo.

domingo, 27 de maio de 2012


Sempre que algo de bom lhe acontecia, pensava em morrer.
Queria escolher morrer com o coração cheio de ternura. Não via sentido em morrer quando estivesse triste, por que haveria de eternizar aquilo?  São tantas as vezes em que sentiu aquele medo da morte e no fim não era nada daquilo, era apenas ansiedade de caloura da faculdade ou um amorzinho em estado de dúvida.
Mordia forte a cuca que dona Antônia havia feito e se lambuzava com o bolo, exclamava-se toda por dentro imaginando o funeral e as pessoas que mais gostava chorando. Todas as suas pessoas preferidas no mundo todo estariam lá e é claro que haveria chá e bolachas, como odiava ir em velórios aonde além de chorar tudo pra fora ainda tinha que passar fome! Pensava que Seu Rogério fosse ler alguma coisa sobre ela para todos, mas pobrezinho, há tanto que não escreve, a última vez escreveu sobre flores e teve de ler alto para as crianças do bairro, pior que sua voz de gente velha num tempo em que se vai ficando rouco e sofrido foi a cara de toda aquela gente pequena não sabendo se olhavam para aquele olho fundo que brilhava com ar de choro, como se mil lágrimas estivessem presas ou se olhavam para a professora Luzia, também velha porém feliz com a idade. Ninguém entendia uma palavra se quer que saía daquela boca tão conhecida pela cidade. A partir daí inventaram-se rumores de que ele estava apaixonado e haviam lhe partido o coração, logo travou-se na escrita. E eu aqui, crendo que o amor consertava. Bom, a gente nunca sabe.
Pensava em editar também um filme com a trilha sonora daquele filme que não sabia o nome, seu primo tinha lhe emprestado quando ainda era pequena, mas nunca ficou pra assistir junto. Sentava sozinha no sofá que parecia ainda maior e fazia de tudo uma conclusão. O importante era que aquilo virou memória e tudo é melhor quando se é memória. Lembrava da meia que usava, aquelas meias fraquinhas que te obrigam a cobrir os pés com manta, apesar de ter visto o filme tantas vezes, lembrou-se mais desse dia. Talvez pelo frio que sentiu nos pés. No entanto quando fixava bem os olhos naquela história linda, que era mais linda porque todos diziam ser linda, os momentos mais lindos surgiam e a música triste de fundo se aumentava e ela esquecia do pé gelado e que sua mãe poderia estar ali, ou poderia aparecer ali, ou alguém poderia aparecer ali. Se esquecia e mostrava o que era, deixando-se tomar pelo filme e assimilando palavras novas, copiando gestos, sofrendo com as pessoas do filme. Era sensível essa menina.  Quão constrangedor seria ser assim por fora.
Assim que voltava ao normal, cobria os pés e não, não queria morrer neste momento.
Tirou tantas fotos lindas dos dias em que visitou sua Avó no sítio, fotos nos lugares verdes e usava o chapéu da tia Ana. Poderiam passar tais fotos neste vídeo, ficariam todos surpresos em como ela era linda e que pena ter morrido.
Que difícil, que difícil era tocar o violino. Que missão mais árdua sua mãe lhe havia deixado.
Quando ia para as aulas, professor Victor sempre com roupas claras e cabelos que combinavam com elas, a luz que aqueles fios iam refletindo de alguma forma era tão bonita e parecia tudo tão certo, aceitaria naquele momento qualquer acorde. E quando conseguia imitá-lo mais ou menos, era ela tomada pela felicidade de poder agradá-lo e fazer com que ele acreditasse que era assim mesmo que se ensinava. Nunca quis tocar violino, mamãe havia lhe imposto, digo, sua mãe lhe havia imposto tocá-lo para ser uma boa menina como Vera, de forma que Vera tocava piano e era a filha da melhor amiga de sua mãe. Todos que fossem outros eram sempre melhores e mais dedicados. Não tem problema, assumiu aprender e aprender bem, para que Victor ficasse feliz com seu trabalho. Sangraria os dedos para deixa-lo bem e então ficar bem. Ia para casa satisfeita e não sabia bem porquê.
Poderiam então tocar violino para mim enquanto eu estivesse deitada naquele caixão de flores. Oh Deus! Não, Não haveriam de lhe botar algodão no nariz! Talvez fosse melhor deixar uma pequena carta com algumas exigências pois havia lembrado que Lucas, seu vizinho, era criança pequena, e crianças pequenas não sabem o que é viver e muito menos morrer, logo estaria com a alma tranquila, provavelmente entretido com tanta gente num cômodo só. E não queria isso, queria tristeza e sofrimento. Queria que sofressem por terem perdido moça tão bonita que tocava violino. Portanto, sem crianças no seu funeral.
Já havia tentado encontrar um amor pra vida toda, mas imagina este coitado ao saber que ela havia partido? Que estaria comendo grama pela raiz? Que havia batido as botas? Seria egoísmo amar tanto alguém e depois partir. Ficava triste pensando que seria mais terno se nem tentasse. Havia este garoto que via sempre a caminho da escola, era irmão de Claudia, moça que cuidava de dois bebês gêmeos na cidade ao lado. Era garoto bonito, e um dia indo para a aula de álgebra escolheu amá-lo para sempre. Amou-o tanto que não permitiu que seu coração pudesse amá-lo. Amou pois por ele, não amaria outro nunca mais. Viveria para ele e jamais lhe contaria isso, porque o amava tanto que quis cuidar bem do que sentia. Queria poder morrer sem fazê-lo sofrer e se não o amasse e ele também não soubesse seu nome, tudo estaria como deveria ser.
Nunca foi moça triste mas também nunca soube de muito, pensava em tudo quanto podia e perguntava ainda um pouco mais, mas vivia entre os velhos e sentia que vivia para os outros também. Não sabia em que parte daquela briga com seu pai quando pequena havia esquecido seu amor pelo que ela era. Sempre que muito triste, lembrava dessa briga. Não se lembra bem o que aquele senhor lhe dizia mas sabia que não era bom, havia mentido para ele, não lembra porquê. Tinha quebrado alguma coisa de vidro, os pedaços no chão eram poucos e grandes, dava até pra se notar o que costumava ser aquele objeto agora estraçalhado. Naquele dia deixou de gostar de si mesma e não consegue voltar atrás pra consertar. Papai viaja muito e não tem coragem de saber dele aonde deve melhorar para que possa gostar dela mesma também. Aí vive assim, pelos outros. Vive mais pelos mais velhos, gosta de fazê-los crer que eles ainda são importantes para algo e que suas histórias fazem sentido para alguém. Que conselhos são bem vindos e que tem dúvidas bestas sobre a vida que só eles podem responder.
Em seu velório, todos vão sofrer por tê-la amado tanto e será tão bonito. Terá morrido feliz, num momento desses em que vive escolhendo... pobre moça tão bonita, morta.


De todas as dores, a dor de ser vomitado para fora sem mais e nem menos é a maior. É a maior porque ela não arde e nem dói, apenas vai ferindo conforme você vai explodindo da jaula do corpo. Aquilo que não tem nome ainda crescia.
Como poderia você, com dedos tão pequenos entender que tudo começa por dentro sendo que quando deu-se por si, estava do lado de fora? 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Antropologia do Tempo



Como posso não posso criar à minha forma, uma larva?
Que com o seu tempo, me devore.
Tempo esse que não passa...


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Virginia pensou ser o seu tempo inútil.
De nada servia as horas pra quem nunca se importava.
Não se via velha, não sentia nos joelhos finos a morte que pairava.
Não conhecia também o medo do “deixar pra trás”.
Se um dia lhe teve dentre as mãos o que pudesse fazer-lhe falta, hoje não sabia aonde havia metido. Talvez tivesse perdido, talvez tivesse ela se transformado no que antes segurava.
Virado um algo, que há de ser segurado por outrem.
Este que possa então sentir a bravura de alguém que se foi, estando ali.

Pensava pois tanto,
Que os pés se tornaram invisíveis.
O chão então era mais alto,
A queda, mais baixa.

Não tinha ela o que fazer com o corpo,
Este que enjaulava a alma fraca,
Que cheirava banho e sofria com o descarne.
Por que a menina Virginia não quer o seu tempo? Pensam as outras coisas.
As outras coisas que ela não tinha, que não estavam ali,
Suas vozes um tanto confiantes no entanto, rebatiam as paredes.

Enquanto sacudia os cílios, inebriados pelo vento,
Viu então em sua frente, Augusto.
Aquele pelo qual valeria à pena toda e qualquer coisa.
Sabia que não era real, pois sorria-lhe com um sorriso desocupado.
Diante da miragem, restou-lhe apenas jogar no amado, ali feito,
O resto de seu tempo.
Metade dele havia se agarrado ao chão, pois a tudo o tempo se agarra.

Fechou-se em esperança do que não podia ver,
E desejou que tudo o que lhe tornava viva, fosse dele.
Desejou que o tempo que a rodeava desesperado, fosse dele seu servo.
Augusto que estava naquele momento, ou então em outro, em qualquer lugar,
Não haveria de saber que lhe haviam entregado a vida.
Ela que fez de sua coragem o nada e o vácuo.
Augusto não sente que lhe botaram à mão Virgínia.
Sacrificada pelo tempo que entregou a quem desconhecia o segundo nome.
Caiu-se assim, morta.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Todo o tipo de memória presente num espaço tempo de criaturas , é levado à um riacho, quase verde por si próprio devido à vegetação densa. O trilho do trem que corta as beiras do mesmo, desafia a gravidade ao transpassar-se por entre as margens.
E quem no trem avista um monte de horizontes escuta também os homens que no riacho cavam por entre as águas, com os 
pés na água e a pá na areia, calça molhada e blusa seca.
E o barulho dos trilhos como também do trem confundem os que estão na janela, respirando vagarosamente pois o vento não
dá folga. 
Chegando logo, nesse castelo enorme de pedras e madeira. O trem resolve parar e eles descem confusos. Mostram-lhes um salão aonde música surge, há cabelos de todas as cores, muitas pessoas dançando e migrando pelos corredores escuros. Todos com sorrisos se trombam.
Rumando ao norte, vê-se dois rios, parados, completamente contidos. Aonde uns nadam e outros observam o reflexo da água nas margens com plantas, o reflexo da água no píer de madeira, na ponte, o sol escondido que banha tudo o que se via.
Você com medo de um susto, os outros agindo como se fosse tudo tão próximo do perfeito.
Um amigo de infância, agora crescido. 

domingo, 12 de junho de 2011

Tivera então eu pensado que antes de tudo eu seguiria o arranque. Entretanto, haviam de me pregar uma peça.
Essa que sem arranjo nem batuque, me convenceu que pra viver com os meus eu tinha que varrer a terra e cuspir no chão, avassalar com o gado e amanhecer pra comer pão. Saberia logo quando soubesse que estava encontrando a que envolve o sapato sujo e alma de peão.
Custou-me ver, que eu também me valia dela, de forma que no alto do barranco, eu não tinha pra quem ser.
Doía a fronte como consequência do admitir, árduo este que ali admitia. Todo aquele gado e toda aquela gente suja, eram pra quem eu tinha de ser. Daí, que eu não me importo de ter de ser só pra mim, não me custa muito, não me tira nada e não me tem nada.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Eu não sabia
o que poderia dizer.
Não sabia quais atos,
quais anseios e demônios
me fariam sofrer.

O que eu sabia,
não me bastava, não me ensinava,
desgastava em mim
o homem que restava,
logo eu que tudo aprendia...


domingo, 9 de janeiro de 2011

A Verdade. Prólogo

É como se ao sentir algo o corpo relutasse e ninguém jamais o visse. Esse algo era a verdade. A única real e absoluta verdade que não era um fato, mas um ato. É um repuxar de lábios e levantar de braços.
Quando o corpo, como entidade separada da alma, aceita uma verdade, esta deixa de ser virtual e passa a ser real. A realidade nada mais é do que uma verdade aceita e exteriorizada.
Há mecanismos que no momento desconheço, mas sei que os mesmos nos tornam fracos. Quantas verdades pairam sobre as nossas cabeças e nenhuma delas é nossa.
Em cada movimento de sobrancelha seu eu também vejo você e em cada palavra sua proferida eu também vejo você. Você está em tudo. Teu cheiro está somado ao ar que você mesmo respira. Ainda assim, quando a tua porta abre, de nada sua é a porta e de nada seu há na sala.
Ninguém senta na tua calçada e ninguém bebe da tua água.
Tudo ao seu redor é você, nada é seu.
Você não tem nada e é tudo.
Não sei como hei de salvá-los e nem se devo, porque epifania da verdade é tão imensa que o corpo não suporta, ele se mexe e mostra que sabe. 
Tudo é feito de você, tua porta é sua se você conseguir ser sua porta.
Portanto eis a amargura da verdade. 
A coisa mais influente e importante a todos os seres é a verdade. 
Ela é o motivo de nossa existência.
Demanda-se um treinamento, uma aula que dará a ti mesmo.
Quando ventar, não sinta o vento. Confunda-se com o vento. Tente não saber se ele tromba com tua carne ou se tua carne se dissolve num meio tempo. 
Seja você o vento e vente também.
A verdade sendo uma só, é única para toda e qualquer coisa, viva ou morta. Neste caso, me refiro como morta tudo o que você ainda não tentou ser.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Corra! Corra!
O tempo não espera não.
Sei que tem sido difícil,
Vá pra mata e se jogue no chão.

Depois lembra de mim e pensa
Que eu fiquei.
Mas de um lugar tão sujo, te salvo.
Porque eu já me sujei.

Ande! Ande!
Eu não te amo não.
Se te amasse ia junto,
Eu não sou dos que vão.
Aonde vai Marina?
Não sabe o que quer?
"Vou andar" Responde
"Encontrar quem vier".