A velha desgostosa na varanda, sentada na cadeira que não balança, não tenta nem abrir os olhos para ver quem na calçada faz o cachorro rosnar, finge que dorme e o cachorro não escolhe as canelas de quem passar.
Os bares, também cheios de gente velha que não esqueceu como cruzar as pernas, e ainda acende o cigarro com uma mão só, ao lado na mesa do truco o músico se escorre em dó absoluto convertendo o passado e o futuro num ritmo lento e sereno de mãos rugosas.
E eu andando à toa como quem nada quer, me pergunto se aquela mulher comprando tomates na feira, julgando cada um pela sua beleza será velha. E se um dia ela mesma for, saberá ela que com tanto amor os bares, esquinas e varandas estão no seu aguardo? Que ontem vi sua mãe com cegueira procurando o guardanapo, toda habilidosa sem nada ver lutando para não ceder ao tempo, era tardezinha e queria ouvir ao relento os sabiás do pôr-do-sol.
Delícia de texto!
ResponderExcluirÉ redundante dizer que sou apaixonada pelos seus textos, ne?
ResponderExcluirUm dia te mostro os meus. Um dia.