segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Antropologia do Tempo



Como posso não posso criar à minha forma, uma larva?
Que com o seu tempo, me devore.
Tempo esse que não passa...


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Virginia pensou ser o seu tempo inútil.
De nada servia as horas pra quem nunca se importava.
Não se via velha, não sentia nos joelhos finos a morte que pairava.
Não conhecia também o medo do “deixar pra trás”.
Se um dia lhe teve dentre as mãos o que pudesse fazer-lhe falta, hoje não sabia aonde havia metido. Talvez tivesse perdido, talvez tivesse ela se transformado no que antes segurava.
Virado um algo, que há de ser segurado por outrem.
Este que possa então sentir a bravura de alguém que se foi, estando ali.

Pensava pois tanto,
Que os pés se tornaram invisíveis.
O chão então era mais alto,
A queda, mais baixa.

Não tinha ela o que fazer com o corpo,
Este que enjaulava a alma fraca,
Que cheirava banho e sofria com o descarne.
Por que a menina Virginia não quer o seu tempo? Pensam as outras coisas.
As outras coisas que ela não tinha, que não estavam ali,
Suas vozes um tanto confiantes no entanto, rebatiam as paredes.

Enquanto sacudia os cílios, inebriados pelo vento,
Viu então em sua frente, Augusto.
Aquele pelo qual valeria à pena toda e qualquer coisa.
Sabia que não era real, pois sorria-lhe com um sorriso desocupado.
Diante da miragem, restou-lhe apenas jogar no amado, ali feito,
O resto de seu tempo.
Metade dele havia se agarrado ao chão, pois a tudo o tempo se agarra.

Fechou-se em esperança do que não podia ver,
E desejou que tudo o que lhe tornava viva, fosse dele.
Desejou que o tempo que a rodeava desesperado, fosse dele seu servo.
Augusto que estava naquele momento, ou então em outro, em qualquer lugar,
Não haveria de saber que lhe haviam entregado a vida.
Ela que fez de sua coragem o nada e o vácuo.
Augusto não sente que lhe botaram à mão Virgínia.
Sacrificada pelo tempo que entregou a quem desconhecia o segundo nome.
Caiu-se assim, morta.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Todo o tipo de memória presente num espaço tempo de criaturas , é levado à um riacho, quase verde por si próprio devido à vegetação densa. O trilho do trem que corta as beiras do mesmo, desafia a gravidade ao transpassar-se por entre as margens.
E quem no trem avista um monte de horizontes escuta também os homens que no riacho cavam por entre as águas, com os 
pés na água e a pá na areia, calça molhada e blusa seca.
E o barulho dos trilhos como também do trem confundem os que estão na janela, respirando vagarosamente pois o vento não
dá folga. 
Chegando logo, nesse castelo enorme de pedras e madeira. O trem resolve parar e eles descem confusos. Mostram-lhes um salão aonde música surge, há cabelos de todas as cores, muitas pessoas dançando e migrando pelos corredores escuros. Todos com sorrisos se trombam.
Rumando ao norte, vê-se dois rios, parados, completamente contidos. Aonde uns nadam e outros observam o reflexo da água nas margens com plantas, o reflexo da água no píer de madeira, na ponte, o sol escondido que banha tudo o que se via.
Você com medo de um susto, os outros agindo como se fosse tudo tão próximo do perfeito.
Um amigo de infância, agora crescido. 

domingo, 12 de junho de 2011

Tivera então eu pensado que antes de tudo eu seguiria o arranque. Entretanto, haviam de me pregar uma peça.
Essa que sem arranjo nem batuque, me convenceu que pra viver com os meus eu tinha que varrer a terra e cuspir no chão, avassalar com o gado e amanhecer pra comer pão. Saberia logo quando soubesse que estava encontrando a que envolve o sapato sujo e alma de peão.
Custou-me ver, que eu também me valia dela, de forma que no alto do barranco, eu não tinha pra quem ser.
Doía a fronte como consequência do admitir, árduo este que ali admitia. Todo aquele gado e toda aquela gente suja, eram pra quem eu tinha de ser. Daí, que eu não me importo de ter de ser só pra mim, não me custa muito, não me tira nada e não me tem nada.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Eu não sabia
o que poderia dizer.
Não sabia quais atos,
quais anseios e demônios
me fariam sofrer.

O que eu sabia,
não me bastava, não me ensinava,
desgastava em mim
o homem que restava,
logo eu que tudo aprendia...


domingo, 9 de janeiro de 2011

A Verdade. Prólogo

É como se ao sentir algo o corpo relutasse e ninguém jamais o visse. Esse algo era a verdade. A única real e absoluta verdade que não era um fato, mas um ato. É um repuxar de lábios e levantar de braços.
Quando o corpo, como entidade separada da alma, aceita uma verdade, esta deixa de ser virtual e passa a ser real. A realidade nada mais é do que uma verdade aceita e exteriorizada.
Há mecanismos que no momento desconheço, mas sei que os mesmos nos tornam fracos. Quantas verdades pairam sobre as nossas cabeças e nenhuma delas é nossa.
Em cada movimento de sobrancelha seu eu também vejo você e em cada palavra sua proferida eu também vejo você. Você está em tudo. Teu cheiro está somado ao ar que você mesmo respira. Ainda assim, quando a tua porta abre, de nada sua é a porta e de nada seu há na sala.
Ninguém senta na tua calçada e ninguém bebe da tua água.
Tudo ao seu redor é você, nada é seu.
Você não tem nada e é tudo.
Não sei como hei de salvá-los e nem se devo, porque epifania da verdade é tão imensa que o corpo não suporta, ele se mexe e mostra que sabe. 
Tudo é feito de você, tua porta é sua se você conseguir ser sua porta.
Portanto eis a amargura da verdade. 
A coisa mais influente e importante a todos os seres é a verdade. 
Ela é o motivo de nossa existência.
Demanda-se um treinamento, uma aula que dará a ti mesmo.
Quando ventar, não sinta o vento. Confunda-se com o vento. Tente não saber se ele tromba com tua carne ou se tua carne se dissolve num meio tempo. 
Seja você o vento e vente também.
A verdade sendo uma só, é única para toda e qualquer coisa, viva ou morta. Neste caso, me refiro como morta tudo o que você ainda não tentou ser.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Corra! Corra!
O tempo não espera não.
Sei que tem sido difícil,
Vá pra mata e se jogue no chão.

Depois lembra de mim e pensa
Que eu fiquei.
Mas de um lugar tão sujo, te salvo.
Porque eu já me sujei.

Ande! Ande!
Eu não te amo não.
Se te amasse ia junto,
Eu não sou dos que vão.
Aonde vai Marina?
Não sabe o que quer?
"Vou andar" Responde
"Encontrar quem vier".

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Quando eu sinto o gosto do café amargo, não engulo,
Cuspo!
O problema é que o pires fica na mesa e quem cai fora da xícara sou eu!
Eu pensei numa verdade que não sabia escrever.
E de frustrada, botava lá: você você você você você
Bom dia Antoine!
Diga a todos que me viu sorrindo hoje.
Mas não explique que este sorriso peralta quem me deu foi você!
E quando disserem " tua mulher é tão séria",
diga que de mulher aqui você não vê nada e
que de tua, teu, tudo há o mundo!
Acordei exausta,
E o novo dia quer me levar!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

E essas manchas na pele?
Na minha um círculo, na sua um triângulo na dele uma árvore, vem a nós as tintas, às favas!
Pra marcar a pele e dizer é meu. Dizer que perdeu. Dizer que ai! Doeu.
Por que do rosto nada basta, dos gestos? Ah..às traças!
Que dela, a pele, todos vejam a dor da sua vivência. Ode a cicatriz! Ao bicho de areia!
Ode ao corpo que revela tudo porque a boca mente.
E na hora de ludibriar com tuas histórias, lembra do arranhão, moço.
Transcenda a tua alma, se olhe no espelho.
Não vai se ver com o corpo no caminho, o corpo mexe.
O barulho da chuva soa diferente agora que eu presto atenção.
Acho que sua voz seria diferente também se eu fechasse os olhos um pouco.
Sentada sem ver nada, tudo tapado, o mundo é meu. Eu assumo de supetão o controle desse tudo mestiço.
Vou pedir pro ar que traga as minhas coisas ou que leve as minhas partículas pouco a pouco aonde repousa um deserto, pra saber se do chão a gente pode sair, se quando o pé queimar tudo o que resta é gritar e correr. Pra saber se é igual isso aqui.
Pra cruzar os braços é dizer que a água tem gosto sim e que a maçã apodrece. Que se a gente não tem alma o beija-flor também não, e que se escrever também não salva, dançar só cansa os pés.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Ao sol.
Ao sol que ferve, purifica e mata, jogo estes escritos.
Sacanagem tua, deixo aos restos.
Queima.


Deita
Deleita
Some
Repuxa
Mar
Sapateia
Beatriz
Não me iluda
Sombra
Segredo
Cabelo
Cavalo
Cigarro
Gato
Caveira
Orvalho
Chuva
Eu sinto
Estranho
Terror
Antiquado
Sol
Desdobrado
Amor.

Há milhares de coisas que não podem acontecer conosco.

Se acontecerem, estaremos aniquilados.

Nada sabemos sobre nada. Amargura.

O corpo dança a música e caí.

Soa a nudez e penteia por entre as pernas os fios do laço.

As pernas se tocam e tremem se excitando esquecidas de ser um corpo só.

A parede derrete, mistura cor com chuva.

O piano, tão morno e cheio de ternura se deflorando por mãos rápidas e coerentes.

Geme e parece música.

Do concreto não emergem pássaros.

De vida só eu.

De cama e doença, o quarto.

Parem!

Não é música.

Eu escrevo. Eu escrevo. Eu escrevo. Eu escrevo. Eu escrevo. Eu escrevo.

Cadê você?

Ser água do mar.

O preço do exaltar é caro,é preciso definhar.

É preciso se fundir com a grama, sentir fome na morte.

Não há como se iluminar quando se está no claro.

A ardência que os olhos evitam, a vermelhidão que jaz na íris quando a luz se ascende assemelha-se ao pudor dos virgens.

Irônico, o momento mais claro entre as épocas vividas é um ponto cego.
Quando as pupilas descansam o cansaço dos vagabundos, está ali, feito.

Garanto que reconhecerá a alma mais próxima.

Aos que leem

Era mentira quando gritei que só escreveria para expor o meu repúdio pelas pessoas e por mim.

Que seria uma versão niilista das palavras que pairavam sobre os outros, daqueles que não sabem que quando proferidas as palavras, as escuto em silabadas, em camadas. As dissolvo e monto-lhes frases melhores com o mesmo intuito para deixa-las livres de abutres e então os engano. Em minha mente, as palavras são um mundo todo.

Eu menti acreditando na verdade. Me desculpo, mas eu fui pura.

Consigo escrever coisas felizes se elas em mim brotarem.

Hoje, que é depois de ontem, eu fecho os olhos.

Eu sinto que devagar se tornam tocáveis. Era tudo tão abstrato.

A minha mente sempre brincou de me enganar, de me fazer contorcer pelo chão da verdade.

Eu não sei o que é verdade, mas meu peito não há de me enganar assim.

No entanto não confio em mim da mesma forma como confio na blusa dele que me esquentou durante a noite.

Entendo que nada está certo, que do caos as tintas mancham as paredes. Mas é tudo tão cru.

Para quem se lembra do que já escrevi, quem já leu o que nunca postei, digo que a poesia vive e minha alma não é fluente num mundo aonde existem bocas.

Escreveria uma carta, mandaria um cartão postal, assinaria um contrato, escreveria Bom dia, Boa tarde, Boa noite, 5 pães por favor, Um feliz ano novo, Duas doses de vodka, por favor; Eu te amo, Quanto custa este livro?, Me desculpe não tenho trocado, Mude de canal, Estou infeliz, me abrace; Ah estou tão feliz, me abrace. Eu viveria bem, num mundo sem bocas, sem ouvidos.

Estou me rendendo em busca do aprender.

Pela primeira vez eu não estou só.

Herman Müller 01/01/2011

Eu pensei que era impossível.

Eu pensei que encontraria dentro de mim, que não viria revestido de osso e carne.

Pensei também que era devaneio dos desocupados.

Acreditei na minha independência, que eu não precisava.

Que se precisasse, procuraria num livro e se não achasse, escreveria um poema.

Eu pensei tanto tudo.

E então, eu me dei de frente com ele.

Na praça central, ele me abraçava a cintura e lia monumentos históricos em bom som enquanto arrumava os meus cabelos.

Ele sorria para mim sem ter motivos e me abraçava. Contou-me de seus livros, de seus filmes e quis saber dos meus, eu me deitei em seus braços e ele tirou de minhas mãos sem que eu percebesse, a lata já vazia de cerveja.

Em outro momento, havia dito que me amava e logo depois disse que sentira a minha falta por 19 anos. Os seus 19 anos sem mim.

Quando planejávamos o futuro, eu me dei conta da realidade, me virei e seriamente disse:
- Você vai me salvar desse fascismo?

Eu precisava de uma resposta. Eu estava em sua frente, olhando em seus olhos, segurando suas mãos e perdida no espaço tempo.

Ele me respondeu sem hesitar e com a calma dos anjos:

- Eu já estou salvando.

E eu soube que era verdade, repousei em sua voz.

Andávamos nos salvando das poças d’água por entre o chão, andávamos admirando as luzes de Natal e eu olhava para cima comovida com o reflexo das árvores, pensando estar me afogando num lago. E quando cambaleava, ele me segurava.

- Li um livro uma vez, que me fez cismar contra o céu. A imensidão do céu.

Ele me disse, segurando a minha mão enquanto eu dava passos bêbados.

Eu não queria ir embora daquela praça limitada por círculos de pedra e carros que bailavam por entre as ruas que as cercava.

Quando tive de deixa-lo, eu morri.

O amor da minha vida existia. E possuía olhos profundos.