sábado, 18 de dezembro de 2010

Sem Título

Decidiu continuar penteando os cabelos, e tinha as mãos fortes.
Não perdoava os contornos, não perdia o ritmo severo e quando os músculos cediam, se agonizava.
Com os braços fracos, desistia do corpo por entre o abstrato de fios que jaziam mortos ao chão do banheiro.
Queria ser os cabelos.
Como um dia quem os acolhera hoje os libertara da nuca injuriada.
Sentia tanto tudo que pôs-se a não sentir.
Queria cortar-lhe a cabeça fora, quis abnegar a vida, mas por preguiça decidiu por salvar os cabelos.
Podera ela ficar sem peles e sentir o ar fresco por entro os vãos de seus finos ossos que nunca contentes com a carne que os cerca, saltam e transparecem por entre os azuis de suas veias cruzando sua pele branca. Sem peles, seria mais leve para correr de tudo o que pensou para si.
Seus braços já não doíam tanto quanto o couro cabeludo machucado. Abriu a gaveta e guardou o pente com os dentes finos e enormes.
Depois de varrer o chão, quis comprar uma peruca.

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