sábado, 20 de março de 2010

9ª Sinfonia de minhas moléstias

Um apartamento velho e sujo.
Por debaixo de toda a 9ª sinfonia das moléstias há canos.
Canos petrificados pela ausência líbrida da inocência.
Eles não possuem calendários amarelados e nem números desgastados após a síndrome do uso,mas são tão antigos quanto a ferrugem que os cerca.
Eu sinto como se houvessem canos em meu estômago,canos em meus cabelos e em meus lábios.
Canos em mim.
Todo o sentimento que em mim flui rapidamente acaba transbordando como a água cheia de vergonha.
A angústia e o tempo parado são como as gotas que devagar me esfolam.
No meio tempo da dor e das lágrimas, eu não sinto nada.
As lágrimas me molham os cílios e eu nem se quer sei porquê.
O desespero se enche de mim, mas eu não posso.
Me controlo.
Me agaixo.
Me reviro.
Estou leve.
Antes perplexa, dando o meu melhor para nomear os sentimentos, as confusões.
Agora aqui...nada mais faz sentido.
Sinto os meus dedos congelando, mas não é inverno.
Perco os movimentos.
O olhar fixo me supre.
Logo, estou fechando os olhos sem o desejo de os fechar.
Estou muda.
Lhe imploro que fale comigo, pois não estou surda.
Fale comigo e seja como uma gota d'água de um cano podre.
Pingue sua voz sobre a minha testa.
Ela escorrerá até o meu umbigo.
Tentarei me mexer como tentativa de coçar-me.
Embora sinta cócegas.
E se me mordesse?
A ponto de sangrar.
O sangue escorrerá entre as minhas pernas e depois entre os dedos do meu pé.
Usarei a concentração que me resta para mover os dedos e batê-los no sangue simulando um ritmo qualquer.
Como uma criança em uma poça d'água.

Um comentário:

  1. Você é incrível e conseguiu ser tudo isso que eu tento ser linha por linha

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