sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Efeitos secundários

Após o homicídio o assassino volta para o conforto de sua casa, vai ao banheiro aonde lava o rosto, direciona os olhos para o espelho e diz para si mesmo: "tive de fazer, eu não tive escolha".
A verdade é que se ele não tivesse dilacerado os pulsos finos dela, se ele não tivesse feito sexo como um ex-presidiário cheio de fome, se ele tivesse apenas reparado no traseiro dela naquela noite e ido para a casa sem mais consequências, ele também se sentira mal.
Visto isso, deixar o sangue escorrer e deixar o traseiro livre caminhar, terminaria de maneira previsível.
Me senti assim.
Eu me sinto assim.
Com o sentimento de que não importa o que eu faça, os efeitos secundários me serão os mesmos.
E como se nada me bastasse, eu sou indiferente.
Porque se render ao acaso da tortura, é tão fraco.
Refletir sobre o que não se sabe. Não se sabe.
Ser indiferente está fora de controle, mas o que me enlouquece é pensar em milhões de hipóteses a fio para tal sentimento sem pudor que me fode o peito e não chegar a nenhuma conclusão convincente. Ou seja, eu perco tempo. Perco tempo sofrendo com algo que irá passar e voltar, e passar e voltar, e passar e voltar, sem mais e nem menos, com enormes feitos e transtornos que a olho nu se parecessem muito com uma noite mal dormida.
Queria me sentir um pouco mais lúcida de mim mesma. Porque no momento em que eu me canso de fugir de forma saudável, eu percebo que saudável ou não, continua sendo uma fuga. Me deixe intorpecida.
Apesar dos meus mais profundos pesares, eu tenho a infelicidade de ser feliz de forma casual.
Minha vida medíocre me soa mesquinha.
Agora eu estou semi-morta, semi-fria e totalmente indiferente.
Eu preciso de algo.
De algo.

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