sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Chão frio

Antes eu queria sair.
Correr para outro lugar.
Ter aonde me deixar cair e depois voltar para a casa, pronta para a imitação da minha rotina.
A cozinha está cheia de coisas minhas.
Eu só queria morrer um pouco mais longe daqui.
Estou sempre morrendo.
Um dia, eu morro pra valer.
Não quero que as pessoas na locadora continuem me vendo arrastar os chinelos.
Seria egoísmo deixá-los para trás?. Não só as pessoas da locadora. Seria?
Seria mais egóismo eu ficar por eles?
Eu devo ir.
Eu tenho jogado fora coisas que são importantes para mim.
Tenho jogado fora as minhas cartas, os meus contos, tenho jogado fora.
Figuras, carimbos, cartões, meias, tudo, tudo.
Olho pela janela e vejo tudo o que eu joguei através dela, na rua, no escuro. E então por alguns segundos eu não sei se estou aqui ou lá.
Sem as meias eu fiquei andando descalça e com os pés tão frios, que eu comecei a reclamar.
Um miojo, um banho quente.
Perdi minhas unhas na tentativa frustrada de escrever e escrever ontem a noite.
Escreverei até os meus dedos sangrarem. Minha única dádiva confiável.
Aqui, agora, tudo momentâneo no meu lugar.
Mas antes eu queria sair.
Correr para algum lugar bem longe daqui.
Onde eu não saiba o nome das pessoas e nem dos seus cachorros.
Um lugar onde eu me sinta a vontade para me livrar de mim.

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